“Qual é o seu negócio?”, disparou do outro lado do balcão o rapaz de óculos de aros pretos, cabelo molhado de gel e cortado rente às têmporas. Com 30 e poucos anos, era o dono do bar um andar abaixo do restaurante chinês onde, pouco antes, eu tinha dado com a cara na porta. Parecia cena de série rodada na Wall Street dos anos 1990. Mereci a pergunta yuppie: na ambiciosa Hangzhou, eu bebericava um uísque irlandês diante de TVs gigantes exibindo um desfile da Victoria’s Secret em looping. “William”, como se apresentava aos ocidentais, animou-se quando eu disse que era jornalista. “Por isso fazia anotações no caderno.” Queria saber o que eu achava do bar, um “executive lounge”, aberto havia pouco, e orgulhava-se de ter clientes entre hóspedes do Four Seasons na cidade. Pedi indicações de outros lugares para jantar, no que fui entusiasmadamente atendido com uma lista que incluía um italiano, um francês e um marroquino. Chinês, nenhum. “Comida apimentada demais”, alegou ele. Três bancos à direita do balcão, uma chinesa de cabelo curtinho não dava a mínima para a conversa, toda ouvidos e olhos para a playlist no seu Samsung Galaxy novinho.