Paradas na porta de um dos vários restaurantes populares em Suzhou, duas garçonetes me atraem, munidas de um menu ilustrado e preços em números ocidentais. Como é comum nesse tipo de estabelecimento, a fa-chada é quase toda tomada de aquários onde siris, lagostins e caranguejos esperam a hora de ir pra panela. “Fish, very delicious”, arranha uma delas, toda sorridente, apontando uma foto no menu. Opto por costelas de porco, “very delicious”, aprova ela. And rice.
Enquanto espero, chá. Ao lado, um rapaz trabalha num infinidade de comida – sopa, arroz, caranguejos com legumes… Nem dez minutos se passam e chega à minha mesa um prato com amêijoas miúdas, negras, mergulhadas num caldo de shoyu. Entrada? Alguma cortesia? Mais difícil que descobrir o que tinha acontecido era saber como extrair os moluscos pela ínfima abertura. As duas coisas rapidamente são solucionadas: atento, o vizinho de mesa orienta a garçonete a me explicar o que fazer (usar o palito de dentes), e ela, ao mesmo tempo, dá a entender que prato foi um engano. Era dele. Desculpo-me como posso, mas já estava feito. Todos riem, ele faz sinal de joinha, very delicious?Very. As costelas também estavam bem boas.
Comemos à beça. Ele volta a instruir a garçonete, que vem me dizer que meu novo amigo gostaria de tirar uma foto comigo. Nada a estranhar: por mais globalizados que estejam, os chineses ainda são bastante curiosos com o ocidentais. Pedidos assim são bastante comuns. Feitas todas as fotos, ela me informa que o jantar ficava por conta dele. São 48 yuans, baratíssimo, mas uma gentileza sem tamanho. Não há possibilidade de recusar. Agradeço, e nossa intérprete, sempre sorridente, me explica que, em Hangzhou, todos são assim, friendly com os turistas. E que, se algum dia eu voltasse, seria sempre muito bem recebido por ela, pela colega e pela dona – e apontou uma senhora de chinelos, meio desgrenhada, com a cara enfiada numa tigela de arroz. Xie xie, thank you.