[book id=’8′ /]
Com 85 anos, bem quieto no seu canto no México, Gabriel García Márquez parece ter se transformado, nos últimos tempos, em personagem de um certo virtualismo fantástico. Primeiro, um espertalhão fazendo-se passar por Umberto Eco (@UmbertoEcoOffic) anunciou no Twitter que o autor de Crônica de Uma Morte Anunciada (sim, sim, eis a razão da gracinha…) havia morrido. Causou um certo furor nas redes sociais, até o hoax ser desmentido pelo próprio morto em sua conta no Twitter (@ElGabo) – onde, aliás, ele se identifica como morador de Macondo.
Semana passada, outra notícia. Segundo o jornalista Plinio Apuleyo Mendoza, amigo de Gabo, o escritor está perdendo a memória. Em certo sentido, é uma notícia ainda mais dura que a primeira – não só por (supostamente) ser verdade, mas por se encaixar na lentidão das tragédias terrivelmente calmas da vida.
Mas acabei me lembrando de uma passagem de outro livro, justamente aquele que consagrou o colombiano. Em Cem Anos de Solidão (Record, 448 págs., R$ 49,90), há um momento em que toda a população de Macondo, sofrendo de insônia coletiva, perde a memória. O fenômeno levou o engenhoso José Arcadio Buendía a bolar um paliativo: marcar cada coisa com seu respectivo nome, numa espécie de torção semiótica do mundo. Ele chega a iniciar a construção de uma “máquina da memória”, não concluída porque acaba salvo, junto com Macondo, por outras magias. Vale a leitura do episódio (apenas duas paginocas) na tradução de Eliane Zagury, acima (para ler em tela cheia, clique no retângulo à esquerda e, em seguida, na lupa para ampliar a página).
A vida seria boa mesmo se agora aparecesse por aí algum @ciganomelquiades para curar @ElGabo desse “esquecimento da morte”, dessa realidade nada fantástica.
Gabo e o "esquecimento da morte": http://t.co/7kfaZzQp
Gabo e o "esquecimento da morte": http://t.co/7kfaZzQp
Gabo e o "esquecimento da morte": http://t.co/7kfaZzQp