Anticristo, de Lars von Trier, é um filme estranho em muitos sentidos. Como sou um preguiçoso incorrigível, vou apenas dizer que entendo quem o tenha achado genial, tanto quanto compreendo quem o tenha achado odioso: há elementos que podem ser usados tanto a seu favor quanto contra, dependendo das motivações ideológicas de cada um. De minha parte, posso dizer que gostei muito do filme justamente porque ele, entre outras razões, desafia essa oposição entre o bom e o ruim. Nele, cenas plasticamente extraordinárias ombreiam com as mais sujas, e cenas em preto-e-branco solene contrastam com o verde deliberadamente distorcido da floresta. Na narrativa, ora lenta ora acelerada, ideias simplórias escondem outras tantas sofisticadas, e todas elas nos remetem a uma loucura — a do próprio von Trier — assustadora. Bonito e blasfêmico, é um filme tão politicamente incorreto que a ideia do que é politicamente correto nem nos ocorre: são muitas as polarizações em Anticristo, mas elas nunca são banais.
Na sessão em que estive, sábado à noite, muita gente se levantou e foi embora — e sei que isso aconteceu em outros lugares também. Uma parte, saindo mais no começo, provavelmente se sentindo ludibriada — “cadê o filme de terror na floresta que estava aqui?” Outra, saindo mais para o meio da projeção, imagino tratar-se daquele contingente de gente exausta de não entender o que ocorre; e a terceira, mais para o final, francamente chocada com as cenas do filme – e isso era visível.
Não é, certamente, um filme fácil, mas essa indignação é algo que há muito tempo eu não via. Tanto na tela quanto na audência, Anticristo parece estar nos dizendo algo muito muito desagradável. Mas importante.
[…] de Melancholia, mas também algumas das cenas mais espetaculares, puramente visuais, do filme — outro Lars Von Trier que vale a pena ver. A música é a mesma que preenche toda trilha, Liebestod, da […]
“Nele, cenas plasticamente extraordinárias ombreiam com as mais sujas, e cenas em preto-e-branco solene contrastam com o verde deliberadamente distorcido da floresta.”
Homenagem a Andrei Tarkowsky… Vale a pena lembrar, assim como também é válido revisitar a obra do diretor Russo.
Também gostei muito de “Anticristo”.