Mesmo para pessoas que, como eu, viram o domínio do papel e dos envelopes na comunicação por escrito, os selos parecem coisas antigas, pertencentes a uma era indefinidamente anterior. Lambê-los para fazer cola, de maneira tão prosaicamente artesanal, só reforça essa percepção, e algo no serrilhado do picote parece garantir-lhes uma certa antiguidade perene. E, claro, há os temas e os desenhos: oficialistas, representando “vultos da pátria”, contentam-se no mais das vezes com traços simples, impressos em cores desmaiadas. Do ponto de vista do design gráfico, são, inegavelmente, uma catástrofe. Tecnicamente, ficam atrás de outros colecionáveis, cujo design é pensado para atrair o consumidor – latas de cerveja ou, sei lá, bolachas de chopp. Selos são, por assim dizer, colecionáveis estatais.
Contudo, pertencem àquela classe de objetos em que a precariedade se torna virtude – a mesma que torna apreciados velhos cartazes, fotos sépia, ruídos de agulha numa gravação ou filme tremidos (já falei um pouco disso aqui). É quando o aspecto arcaico, em seu apelo nostálgico e simbólico de um passado mais simples, supera até mesmo as deficiências técnicas e inspira um humor condescendente. A vantagem dos selos, contudo, é que eles “nunca são novos”. Vêm com o carimbo vintage de fábrica.
Sem essa ideia, creio, não se pode explicar a filatelia. Algo que, confesso, nunca compreendi direito. Os selos ucranianos aqui reproduzidos, por exemplo, parecem ter décadas, mas são relativamente recentes. Estão longe de serem bonitos – e não me dão nenhuma boa impressão da Ucrânia, que leva todo o jeito de estar ainda afundada numa estética comunista. Imagino ex-membros do partido decidindo homenageados, entregando a tarefa para desenhistas infelizes vestidos de cinza num prédio com vista para uma parede. Pode-se dizer, contudo, que possuem esse outro tipo de beleza de apelo nostálgico – mesmo que seja a nostalgia de um passado triste.
Selos http://goo.gl/POSi
Vocês tem uma só chance pra adivinhar o que eu li. RT @polzonoff: Selos http://goo.gl/POSi
SeIos Russos! RT @FabioMarton: Vocês tem uma só chance pra adivinhar o que eu li. RT @polzonoff: Selos http://bit.ly/dA46k3
Selos da Ucrânia e os mistérios da filatelia http://shar.es/aLd5o
[…] This post was mentioned on Twitter by Paulo Polzonoff Jr, AP and Almir de Freitas, Fabio Marton. Fabio Marton said: Vocês tem uma só chance pra adivinhar o que eu li. RT @polzonoff: Selos http://goo.gl/POSi […]
Adorei!
Post do Almir de Freitas, editor da revista Bravo!, sobre filatelia: http://ow.ly/15VTA
Que post sem noção. As pessoas retratadas são um boxeador, um teólogo, um filologista e um poeta. Nenhum deles tem relação com o regime comunista. Fica evidente que essa interpretação de que é de um possível “estilo comunista” é puramente baseada em um preconceito a respeito do país.
Bem, Bogdano, acho que você não entendeu. Ou não quis.
Mas – claro – ninguém é obrigado.
[…] naquela mescla de estética e afetividade que venho mencionando com certa frequência (aqui, aqui e aqui). É como se fossem fornecedores de antiquários virtuais, para quem não pode colecionar objetos […]