O escritor que não conseguia ler

Semana que vem chega às livrarias brasileiras o novo livro de Oliver Sacks, O Olhar da Mente (Companhia das Letras, 230 págs., R$ 44). Entre as histórias contadas pelo neurologista mais pop do mundo está a do escritor canadense Howard Engel, que, numa bela manhã de 2001, descobriu, olhando para a primeira página do jornal, que não conseguia mais ler. “Eu podia ver que as letras que o compunham eram as 26 letras do alfabeto inglês, com as quais eu estava habituado, [mas] quando eu as focalizava, ora pareciam cirílico, ora coreano.”

A causa da desgraça, segundo descobriu logo depois, era um derrame no lobo occipital esquerdo, em que se localiza o que os médicos chamam de  “área de formação o visual das palavras ou, mais informalmente, de caixa de letras do cérebro”. A grande surpresa foi que ele sabia ainda escrever, mesmo sem entender patavina do que colocava no papel: um caso de alexia (incapacidade de ler) sem agrafia (incapacidade de escrever), muito bem contada na animação acima, feita por Lev Yilmaz para a NPR.

O mais notável do texto de Sacks é a simplicidade — e extrema clareza — que ele usa para explicar como funciona o mecanismo da leitura no nosso cérebro, mostrando que a capacidade humana inata de ler é um desdobramento da habilidade, adquirida com a evolução, de decodificar imagens. Tem mais: uma lesão como a Engel, ou uma doença degenerativa na mesma região, pode provocar o oposto da alexia, a alucinação lexical ou letras fantasmas — é quando o paciente vê “texto, palavras isoladas, letras individuais, números ou notas musicais”.

Creepy.

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