Sem querer ser agourento, o dia supracitado é hoje — César não deu ouvidos ao vidente cego e, como se sabe, se deu mal. Para compensar este aspecto sinistro (este blog precisa fazer jus ao nome de quando em quando), segue o trechinho de um ótimo texto de Roland Barthes, Os Romanos no Cinema, sobre o filme de onde foi tirada a cena acima, Júlio César, de Joseph L. Mankiewicz (1953), baseado na tragédia de Shakespeare. Vale muito ver o filme e ler o livro de Barthes, Mitologias (Difel, 256 págs., R$ 35).
No Júlio César de Mankiewcz todos os personagens têm uma franja na testa: umas são frisadas, outras filiformes, outras em forma de topete, outras ainda oleosas, todas bem-penteadas (…) O que se associa a essas franjas obstinadas? Muito simplesmente a ostentação da romanidade. O signo aqui opera aqui abertamente. A madeixa na testa torna tudo bem claro; ninguém pode duvidar de que está na Roma antiga. (…) Mas essa mesma franja sobre a única testa realmente latina do filme, a de Marlon Brando, impressiona-nos sem nos fazer rir, e é possível que uma parte do sucesso europeu deste ator deva-se à integração perfeita da capilaridade romana na morfologia geral da personagem. Ao contrário, Júlio César, com seu crânio de simplório penosamente coberto por uma madeixa de cabeleireiro, parece-nos incrível com seu ar de advogado anglo-saxão, já calejado por desempenhar mil papéis secundários em filmes policiais ou cômicos.
Cuidado com os Idos de Março http://t.co/uUHYapf
Cuidado com os Idos de Março http://bit.ly/gD6LMz