São dois lançamentos recentes que possuem, curiosamente, a bicicleta como chamariz. Nos trechos aqui selecionados, têm ainda em comum a observação e a descrição dos lugares que eles, ciclistas, atravessam.
O primeiro, O Ciclista da Madrugada e Outras Crônicas, de Arnaldo Bloch (Record, 224 págs., R$ 34,90) refere-se a apenas a uma das crônicas do livro, uma antologia de textos publicados no jornal O Globo entre 2001 e e 2009. Na crônica em questão, escreve:
“Desço como um raio a ladeira da garagem, transponho como flecha os paralelepípedos do Alto Leblon e, às 2:30 da matina, baixo no Baixo Leblon. Munido de um dever de alta responsabilidade, faço um pit-stop no posto de gasolina da rua Bartolomeu para calibrar os pneumáticos de liga de alumínio. (…) Para recarregar as baterias, compro um Gatorede e, garrafa e canudo, irrompo no Jobi. Ao topar com tal espectro de saúde suarenta, Narciso, português no caixa, faz o sinal da cruz.
– Gatorade aqui no Jobi, Arnaldo?”
O segundo é bem diferente. Diários de Bicicleta, de David Byrne (Amarilys, 336 págs., R$ 49) é o livro de um autodenominado “viciado” em trafegar nas cidades de bicicleta – primeiro em Nova York, depois, durante as turnês, em lugares como Detroit, Berlim, Buenos Aires, Istambul. Segundo ele, vendo o seria impossível de ver atrás dos vidros de um carro. Sobre Manila, escreve:
“Binondo é a área para onde acabo pedalando hoje. Máquinas de karaokê por todo lugar. Bem na rua! Mesmo as menores naquinhas nesse centro velho bagunçado as têm. Este é um bairro de ruas tortas de vendedores, muitos com minúsculos empórios de uma mesa só. O trânsito é vagarosamente lento aqui, ou é relegado a bicicletas e caminhonetes que trazem mercadorias e bens aos vendedores. (…) Esta área também ótima para se caminhar – e para comprar frutas, vegetais, toalhinhas, CDs e DVDs piratas, presentes de Natal (nessa época do ano), peixe fresco, remédios – tudo que possa se exposto em pequenas pilhas sobre mesa de madeira. Quantos tipos de coisa podem ser empilhadas em pequenas pirâmides. Quase tudo o que você puder imaginar. Eis um tipo de denominador comum no mundo das coisas.”