O autor da biografia de Roberto Carlos, Paulo Cesar de Araújo, fala dos desafios de radiografar um mito*
Como e quando surgiu a ideia de fazer a biografia de Roberto Carlos?
Em 1990 iniciei uma ampla pesquisa sobre a história da música brasileira, com o projeto de produzir vários livros, o primeiro sobre o Roberto. Mas o primeiro acabou sendo Eu Não Sou Cachorro, Não(2002). Desde o começo, entrevistei todos os principais cantores e compositores da MPB, sempre tentando falar com Roberto, sem resposta. Só em 1996 tive um encontro com ele por meio do Lula Branco Martins, que tinha uma entrevista com o cantor e me chamou para ir junto. Costumo dizer, no entanto, que entrevistei o Roberto ainda que ele nunca tenha me concedido uma entrevista. Sempre participei de coletivas, peguei informações de várias formas, mas ele foi o único artista da música brasileira que não me recebeu.
Quando efetivamente você começou o trabalho?
Eu me debrucei mesmo a escrever em 2002, quando terminei Eu Não Sou Cachorro, Não. Foram quatro anos. Mas a estruturação do livro já estava na minha cabeça desde o começo. A pesquisa, que soma 175 depoimentos, data do início de 1990. Em todas as entrevistas que fazia, o tema Roberto estava sempre presente, eu sempre perguntava sobre Roberto.
A quais fontes de arquivo você recorreu?
Toda a pesquisa foi feita na Biblioteca Nacional e outros arquivos públicos, basicamente em jornais e revistas. Fiz também uma pesquisa em material de rádio, obtido com colecionadores, principalmente dos anos 60 e 70, quando Roberto dava mais entrevistas. Depois ele ficou mais recluso.
Quais foram as informações mais difíceis de apurar?
Sem dúvida nenhuma, o que deu mais trabalho foi o período pré-sucesso. Acho que o livro tem o mérito de reconstituir a infância de Roberto, que era uma fase muito vaga. Eu fui a Cachoeiro do Itapemirim, onde conversei com amigos de infância, com o pessoal da rádio de lá. Outro período trabalhoso foi o início da carreira, que não estava muito documentado.
Como você acha que Roberto vai reagir ao livro?
É complicado, não sei. Acho que o livro tem tudo para agradá-lo, mas realmente não sei, é um mistério. Eu só posso torcer para que receba o livro como é, uma grande homenagem a ele, à importância dele na história da música brasileira.
* Obviamente, a entrevista foi concedida muito antes de Roberto Carlos conseguir na Justiça a proibição do livro, que acabou sendo recolhido.
BRAVO!, dezembro de 2006
© Almir de Freitas