Eu passei a juventude adorando os livros de Gore Vidal, mas andei encrencando com ele nos últimos anos. Em junho de 2008, na matéria Epitáfio de uma Geração, por exemplo, mencionei de passagem o delírio antirrepublicado de quem acreditava que os atentados de 11/9 eram obra do próprio governo americano. Eu achava (e acho) um pouco assustador que alguém que tivesse escrito um romance como Juliano pudesse se perder dessa maneira em teorias conspiratórias. Coisas assim, como outras de que falei na ocasião, sempre me pareceram uma ameaça palpável da velhice.
Há uns dez dias, contudo, esqueci um pouco dessa história, e fiquei contente em vê-lo no programa Real Time, de Bill Maher, transmitido para o Brasil pela HBO, às sextas-feiras de madrugada. Aos 83 anos, em cadeira de rodas, o escritor mostrou do começo ao fim que continua, digamos, em forma: inteligente e, principalmente, rápido para responder de maneira afiada em bem-humorada — o que sempre foi o seu forte. Elegantemente, Maher não questionou a teoria conspiratória — graças ao bom Deus.
Demorei todo esse tempo para falar dessa entrevista porque esperava que alguém a postasse no Youtube — coisa que, como sabemos, sempre acontece. Vale a pena assistir na íntegra, e a primeira parte pode ser vista aqui. Reproduzo acima apenas um pequeno trecho, em que Vidal e Maher falam de um clipe que seria apresentado na sequência. Nele, o escritor, com 10 ou 11 anos, contracena com o pai, Eugene, que o faz de cobaia no teste de um avião, em 1936 — as razões são explicadas pelo próprio entrevistado. É um vídeo incrível, com texto pavoroso do pai (como o escritor destaca) e atuação horrível de ambos.
No fim, Maher provoca-o, dizendo que ele parecia um “jovem Norman Mailer”. E Vidal: “E quem foi esse?”