Circula entre os usuários da rede social Facebook uma brincadeira que consiste em postar a quinta oração da página 56 do livro que estiver mais à mão. Não o preferido nem o mais legal – apenas o que estiver mais perto. Na redação da BRAVO!, rodeado que sou de livros, tive de escolher o primeiro da pilha mais próxima, à esquerda. Deu: “Nada mais existe, só as três palavras”, de Melhores Contos de Salim Miguel, selecionados por Regina Dalcastagnè (Global, 220 págs., R$ 34).
Desconheço as razões (se é que existe alguma) dos números 5 e 56 exigidos, mas é curioso como essa coisa tão ordenadamente aleatória parece sugerir, por um instante que seja, um significado maior. Mais ou menos como os biscoitos chineses ou os horóscopos de 50 toques dos jornais. Resolvi então fazer uma nova experiência: pegar (juro) aleatoariamente 5 (número que me parece fazer certo sentido na brincadeira) livros da estante da redação, ver se aparece algum sentido (sei lá) ampliado. Troquei “oração” por “período”, para não ficar maluco além da conta. Se só for maluco mesmo, pelo menos ficam algumas indicações de livros — embora eu não garanta a qualidade de todos. O que posso dizer é que são livros que retive comigo por alguma razão.
Quem sabe o que vai neles não faça algum sentido para quem me lê agora? Eis:
“Ao amanhecer – supunha que já tinha chegado o amanhecer – , elas se esvaneceram como restos levados pela maré.” (Purgatório, Thomas Eloy Martinez. Companhia das Letras, 248 págs., R$ 42)
“No entanto, e talvez para poupar o filho (parece que as mães têm essas coragens), a sra. De Saint-Séverin recobrou a calma original.” (Léa, de Barbey D’Aurevilly em Contos de Amor do Século XIX Escolhidos por Alberto Manguel. Companhia das Letras, 568 págs., R$ 49,50)
“Permissão.” (À Espera do Sol – Memórias Paternas de Amor e Síndrome Bipolar, de Michael Greenberg. Record, 272 págs., R$ 38)
“Atenção nos lados e no lombo dela, carnudinhos como de todo tunídeo, pura massa muscular.” (O Sorriso do Lagarto, João Ubaldo Ribeiro. Alfaguara, 344 págs., R$ 59,90)
“A cidade estava incendiada de batalhas de confetes” (Memórias / A Menina sem Estrela, Nelson Rodrigues. Agir, 456 págs, R$ 69,90)
Adiante, farei o mesmo na estante de casa.