Volto às palavras derradeiras de moribundos célebres (ver post do dia 14 de abril), mas agora com outra intenção e movido por outro lançamento. Para Sempre – 50 Cartas de Amor de Todos os Tempos, organizado por Emerson Tin (editora Globo, 168 págs., R$ 26), traz a correspondência de 24 notáveis. E nela vemos até que ponto o homem pode oscilar entre o belo e o patético, entre a entrega e a dependência, entre o amor e a… morte. E se estes dois caminham juntos, como se diz o senso comum, o que será que podemos vislumbrar na intimidade devassada daqueles mesmos homens que, em Talvez eu Não tenha Vivido em Vão… tiveram suas últimas palavras registradas? Um estilo, uma sabedoria oculta, uma idiossincrasia, nada talvez? A seguir, três casos, com as frases em cada contexto:
VICTOR HUGO
Amor: “Sim, tu podes tudo sobre mim, e, amanhã, eu estaria morto se ignorasse que o doce som de tua voz, que a terna pressão de teus lábios adorados não fossem suficientes para relembrar a vida em meu corpo. Ontem, Adélia, toda minha confiança no futuro me havia abandonado, eu não acreditava mais em teu amor, ontem a hora de minha morte teria sido bem-vinda.” (a Adélia, 1820)
Morte: “Esta é uma batalha entre a luz e as trevas… eu vejo uma luz negra.” (1885)
MACHADO DE ASSIS
Amor: “Obrigado pela flor que me mandaste; dei-lhe dous beijos como se fosse em ti mesma, pois que apesar de seca e sem perfume, trouxe-me ela um pouco de tua alma. Sábado é dia de minha ida; faltam poucos dias e está tão longe! Mas que fazer? A resignação é necessária para quem está à porta do paraíso; não afrontemos o destino que é tão bom conosco.” (a Carolina, 1869)
Morte: “Afinal a vida é boa.” (1908)
LUDWIG VAN BEETHOVEN
Amor: “Que vida!!!! Assim!!!! Sem ti! Perseguido por toda parte por gentilezas que não mereço nem tentei merecer! A humildade do homem para com o outro me faz mal. E quando me sinto parte do universo, o que sou eu e quem é aquele que chamam o maior?” (à condessa Giulietta Guicciardi, a “amada imortal”, 1812)
Morte: “Não é verdade, meu caro Hummel, que afinal eu tive algum talento?” (1827)