Hoje (quase) todo mundo tem (relativa) familiaridade com as câmeras de TV, e, se não tranquilidade, ao menos conhecimento da linguagem e da, digamos, “etiqueta” exigida pela ocasião. Mas, claro, nem sempre foi assim. Mesmo gente que se dá muito bem na frente das câmeras já teve suas dificuldades priscas eras atrás, quando a TV era uma novidade e toda a nossa cultura televisiva — hoje imensa — estava por ser formada.
No acervo da TV Tupi, digitalizado pela Cinemateca Brasil (ao qual já fiz referência, aqui), essas dificuldades de origem são muitos evidentes. Os vídeos que reproduzo nesta página, todos de 1968, mostram grandes atrizes brasileiras bastante atrapalhadas durante entrevistas. A exceção é Cacilda Becker que, acima, fala de providências após o Comando de Caça aos Comunistas (CCC) invadir o teatro Galpão, em 18 de julho, e espancar atores e público da peça Roda Viva, peça de Chico Buarque encenada por Zé Celso.
Abaixo, Marília Pêra (que faria parte do elenco de Roda Viva naquele noite, aliás) toma o microfone do entrevistador, que o cede com uma sutil, mas clara, resistência. Antigamente, isso era algo que irritava muito o jornalista, hoje acho que nem acontece mais.
Abaixo, se repararmos bem, Fernanda Montenegro também segura o microfone, mas esse entrevistador está mais disposto a conservá-lo. Ela, muito segura hoje, também está evidentemente nervosa, incapaz de articular um discurso dos mais coerentes. Tanto neste quanto no último e quarto vídeo, o assunto é a greve que os atores fizeram em fevereiro de 1968 contra a censura. Os tempos começavam a ficar mais difíceis.
Aqui, Tônia Carrero mostra já possuir o estilo “gracinha” de falar. Seu discurso é articulado, mas parece ensaiado: ao “errar” (um erro que não entendi), ela se desconcerta um tanto, como se tivesse cometido uma falha em cena. Atrás dela está Odete Lara, que dá a impressão de estar se arrumando. Lá pelas tantas, a câmera busca Eva Todor que, ao lado de Dina Sfat, parece se divertir por estar sendo “filmada”.
No fim deste quarto video, temos, novamente, Cacilda Becker. E, mais uma vez, ela exibe uma segurança que parece inata. Devia mesmo ser uma força no palco. Quanto ao país, bem. Sabemos que as coisas iam ficar mais feias.
(Publicado em 10/7/2009)